
Por vezes, penso que estás apenas atrás da cortina. Por vezes, penso que a tua longinquidade se resume à barreira que esta impõe. Atrás de um simples pano, vive o inconformado artista presente em ti… Atrás da cortina semitransparente, em frente à luz quente, deixando ver unicamente contornos. Através dela, chega a silhueta de um homem solitário que se vai exprimindo da melhor maneira que consegue, mas que trava uma luta constante contra os espontâneos gestos lentos e pesados. Sei que me tentas oferecer desenhos. Surgem do nada, precisamente do seio da sombra, moldados pelas tuas mãos. São desenhos feitos de sombra que eu tanto admiro, uma original forma de comunicação.
É uma verdade surpreendente, mas inegável: uma cortina separa quase tão imponentemente quanto um muro. Todos os dias, aproximo-me dela para procurar a verdadeira pessoa que um pano mágico oculta parcialmente. Nem sequer consigo perceber a expressão do teu rosto. Alegria, tristeza ou apenas uma enorme indiferença? Aproximo-me até te sentir do outro lado do pano, mas continuo sem perceber o teu sentimento. As tuas mãos tremem ao tocar a poderosa cortina. Será o despertar da tua imaginação? Sei que devo ser para ti uma sombra também.
A rígida cortina não permite um abraço. Então, eu faço-a deslizar pelo varão, em busca de ti. É nesse momento que sou encadeada pela luz intensa de um projector semelhante aos das películas dos filmes. Já não há sombras, apenas aquela luz. Repito este acto inúmeras vezes, mas percebo agora que o teu espectáculo acontece quando a cortina oculta o palco. Tu és o actor que nunca mostra a sua face, que representa quando os outros se enfiam nos camarins, e sempre para uma solitária audiência: apenas eu, uma autêntica sombra. É como se negasses a própria essência do espectáculo. Para ti, ele é algo íntimo. É como falar com a nossa própria imagem reflectida no espelho.
Gostava que o pano caísse de uma vez por todas e te revelasse. Enquanto isso não acontece, escrevo cartas que passo por baixo da cortina. Vejo que pegas nelas e que, pelo menos, as olhas. Não consigo notar mais nada porque, depois disso, a luz quente que se reflecte atrás de ti fica ainda mais intensa. É como se as minhas palavras a alimentassem. É verdade?
Temo que sejas apenas uma ilusão e que essa luz seja o reflexo da intensidade do complexo sonho que observo todos os dias. É verdade o que penso? Já que pareces vencido pelo silêncio, faz-me gestos, tenta falar através deles. A única coisa de que preciso é um sinal. Um sinal de que não estou a alimentar a minha demência, mas sim uma verdade indiscutível.
Agora que a luz se apagou, vou ficar a ouvir o som dos teus movimentos.
Such a powerful marvel to my ears…
3 Comments:
Cda vez mais, admiro tudo em ti......
Tu escreve de uma forma maravilhosa...
Q delicia pros meus olhos...
Adoro-te Sister..
Usas a língua de tal maneira que parece que te é inata...
O teu estilo atingiu 1 nível que já ñ é texto que escreves, mas sim 1 sonho que mete o leitor em acçao...
Provocas 1 duvida no próprio leitor... já ñ sabe se é leitor ou personagem... personagem fictícia ou real...
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