
Tenho, agora, o pior Purgatório, em vida. É tempo de melancolias maiores, daquelas que não se dizem de sorriso nos lábios nem se pintam a aguarela. Dantes, observava o deitar do Sol e sentia o convite das brisas para brincar. Agora, observo as mesmas paredes, sempre iguais, e risco as páginas da vida, confusamente. Escrevo a tinta invisível. As folhas permanecem em branco, tempo que foge de mim e me deixa reclusa.
Quanto aguenta um corpo? Mais que este fraco coração cansado de sentir. Lembro-me dos tempos em que irrompias pela escuridão e espargias luz clara e remidora. Vinha de ti, tinhas luz própria como os astros… Salvavas-me da incompreensão e deste museu da Inquisição em que a minha casa se tornou. Querem que eu seja a escrava que sofre todos os tormentos do mundo e que nada tem direito a dizer. Sabem a tortura por que passo e desprezam ou simples ignorância? Não quero acreditar no narcisismo do que é vil, mas toda esta gente tem os seus tormentos em tronos de ouro. Adoram-nos e querem o reconhecimento de cada ser pensante. Não, o mundo não pode viver cada parte por si.
Apenas tu me podes salvar, mas até a tua presença me falta. Giro mais depressa que este planeta, na esperança de te encontrar. Tenho visto: nestes lugares ninguém conhece a simpatia, mortificam-se, privam-se da alegria. Antes quero morrer a tentar do que a proferir lamentos… Desce até mim como um foragido da morada divina, leva-me contigo e faz-me sentir, para todo o sempre, compreendida.
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Drawing by Nuno Jorge (THE artist!).
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1 Comments:
Cmo eu te queria ajudar...
Cmo te compreendo, apenas queria q ele soubesse o quanto o Amo,e o q demais tnh pra lhe dar...
Cmo poderiamos ser felizes...
Aiiii...
Adoro-te Sister
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