
Ouço risos, perdidos algures num secreto baú da minha memória. Permaneceu fechado, o armário dos meus sapatos. Não andavam por mim, convictos de que nada mais havia para caminhar… Ouço passos leves, quase angélicos. Também eu caminhei sobre a água do rio que chorei… Sozinha, sem ninguém a meu lado para as enxugar ou para fazer deslizar os seus dedos pelo meu cabelo negro. A vida girou como um carrossel, os meus sapatos vermelhos não dançam com a melodia. Invejo a graciosidade da bailarina que tenho na caixinha de música. Esqueço os passos do meu anjo. Encontro os raios de luz que me ofereceste numa tarde de Outono. Os teus cabelos loiros, um olhar claro – quase diamante. Um silêncio que não nos incomodava observava-nos… Sabíamos o que dizíamos naqueles momentos. Arrependes-te do que me confiaste?...
Encontrei o colar de pérolas que segurei nas mãos para lhes dar valor… As aguarelas e o triste carvão dizem-me quem já fui… Uma flor negra, anjo que caiu de uma nuvem esquecida. O meu anjo não me teve nunca nas suas ideias. Pensava, antes, na doce ambrósia e nos jardins de magnólias. Eram mais bonitas, as cores das outras flores, mas ele podia ter segurado os meus ramos…
Pensam que me alegram e trazem-me intenções que em nada me instigam, vasos sem flores, pedaços de alma sem essência… Sei o que é a perfeição e não encontro aqui nenhuma marca dela… A perfeição era minha irmã, mas roubei-lhe a imagem do negativo. A perfeição é tão frágil e altiva, recusa dar a mão a uma irmã…
Fecho-me no armário dos sapatos escarlates e peço-lhes para da imperfeição agreste me tirarem…
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