Chuva Sobre Cinzas

E houve um dia em que tudo parou. Olharam a chuva como a redenção, como o renascer das suas vidas. Antes, tudo havia sido cinzas, morte... É tempo de viver. Sacode as cinzas, apaga o fogo que ainda arde nos teus olhos. Pega nas tuas armas e luta a meu lado. Sorri! Chove sobre as cinzas!... Sofia Neves, Mary Of Silence.

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Localização: Torres Novas, Portugal

Tudo o que não sou. Um pedaço de nada que procura (ser) algo. Uma flor branca enegrecida pelo tempo, um jardim de Inverno, uma rosa em Dezembro. Espelho quebrado, diz-me quem eu sou, que realidade é a minha. Pois não sei quem sou, nem onde estou. Apenas sei quem fui e o lugar soalheiro que deixei para trás...

sábado, setembro 09, 2006

O Malogrado Texto Que Tentou Salvar Uma Noite
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Tinha marcado esta noite para chorar, um doloroso encontro com as lágrimas que me amam demasiado para me cederem um sorriso e libertar. Sou delas cativa do passado na prisão do pressente. Pela janela só e triste, vejo que as sombras se esfumam ao longe, e trazem-me, bem frias, as velhas emoções que senti. Bem mortas pelo tempo, apenas uma breve memória que tortura o coração. Chorei espelhos e espelhos de lágrimas e, no entanto, acho que nunca me vi. Pouco importa, se a única seria num mundo cego. Pego em mim e atiro à parede, já não me quero. Já não me espero feliz, de volta ao mundo de cor de onde desapareci. Amanhece sempre a preto e branco, maldito fotógrafo que assim o impôs, que fotografa sombra em vez de luz, em todas as imagens que me aponta. Lá fora, lá fora... sei lá eu as mil maravilhas de quem tem a verdadeira riqueza...

Pego nas minhas cinzas e atiro-as ao mar, a mais bonita imagem de sempre que uma pessoa amargurada pode encontrar, uma ligeira impressão de findar como uma lágrima beijada. As partículas que restam do meu ser seriam levadas aos confins de um mundo que nunca conheci por inteiro. Completa alegria, assim, teria. Não dormiria nem de noite, nem de dia só para ver os tesouros que encontraria...

Sou reclusa de mim, parece que só me perdi dele e da ventura, nunca do infortúnio que caiu sobre mim. Até as vagas no mar são feitas de sangue que acabou por morrer, de muitos monstros que assustam a mais forte das almas. Mas as ondas feias não me aceitam, dizem que eu as sujo, que até em cinza sou imperfeita. Sou obrigada a vaguear num mundo atroz sozinha, sem alma que a meu lado me declame poesia de gente feliz, sem mãos que me emendem e que me façam não querer mais abrir os livros na última página, em busca da palavra que desejo para mim: FIM.

Marquei encontro com as lágrimas nesta amarga madrugada, tentei evitá-as com este texto e não consegui. Em cada palavra, escondem-se lágrimas oferecidas por uma tristeza que me ama demasiado para me deixar conhecer e fugir livre com a felicidade.
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Painting by Salvador Dali.