
Pendurei-me na torre do relógio velho, com um frasco de veneno e um ponto final nos meus intentos. Queria que ele bebesse e abrandasse o passo. Enquanto a embriaguês sôfrega lhe silenciasse as horas do seu mundo cósmico, eu colocaria um grande e pesado ponto final no caminho dos ponteiros. Mero acidente de percurso, uma pedra revolta que deslizou do cometa errante… Teriam alguma hipótese de me culparem? Seria um crime sem provas, o mais perfeito de sempre.
Ironia do destino: a História fez-se com o decorrer do tempo, mas naquele malogrado momento passariam todos os futuros dias a poeira perdida e espalhada do alto daquela torre.
O ponto final pesava e magoava-me as mãos. Uma coruja pronunciava a canção do sinistro, num voo malévolo sobre as minhas ideias, corvos querendo ajudar-me com penas negras… Todos estão certos que o tempo está errado, que soe a Razão! A antiguidade morreria de velha, jovens para sempre, vivos até o nunca morrer!...
Mas aqui estou eu pendurada… pendurada na torre do velho relógio, tão perto da Lua que queima. E mato o tempo, sim… apenas o meu! O crime mais perfeito de toda a História, uma intenção perdida no… TEMPO!
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